Dia 26 de janeiro de 2015. Talvez esse tenha sido o dia em que eu mais já senti medo em toda a minha vida. Ou talvez o dia em que a temporada do medo começou.
Meu ciclo sempre foi muito regular. Não atrasava, de três em três meses mudava de 28 para 30 dias e qualquer alteração já me deixava de orelha em pé. Por isso neste dia eu resolvi ir à farmácia e comprar um teste de gravidez. Ela já estava seis dias atrasadas e eu estava tendo cólicas absurdas, principalmente na hora de dormir. Subi as escadas, deixei a bolsa sobre a cama, e corri pro banheiro. O nervoso era tanto que eu não quis procurar um recipiente especifico pra fazer o teste e acabei fazendo direto na tirinha.
Resultado: mijei a porcaria da tirinha toda e as duas listrinhas apareceram. Ou seja, POSITIVO. Naquele momento eu só sabia o que era pânico. Eu não sabia se gritava, se chorava, se me jogava da janela. Para a minha sorte, eu estava com o exame na mão e minha mãe abriu a porta do quatro. Só deu tempo de esconder rapido atras de mim e de ficar disfarçando a falta de privacidade com ela perguntando quinze vezes se eu tinha pego algo dela no armário e estava querendo esconder. Antes fosse. E nestes momentos, o nosso cérebro precisa de alguma esperança pra se agarrar e eu acabei me agarrando na possibilidade de eu ter manchado a tirinha quando fiz o xixi. Liguei pro Renato, um amigo meu pedindo socorro, sem nem dizer do que se tratava, aos prantos e ele combinou de passar na minha casa em vinte e cinco minutos.
Neste meio-tempo, corri na farmácia e comprei outro teste. Entrei no restaurante que tem na esquina da minha casa e lá mesmo fiz o teste. Mais duas tirinhas. O pânico duplicou.
Enquanto esperava pelo Renato, liguei para uma amiga que estava em Fortaleza. Ela não sabia se ria ou chorava junto comigo ao telefone. Eu queria correr em direção ao primeiro ônibus que cruzasse a rua, eu não queria lidar com aquilo.
Renato chegou e eu entrei no carro completamente travada, querendo chorar, gritar, sumir, morrer. Tudo o que eu tive forças pra fazer foi cair aos prantos e dizer: eu estou grávida. Ele começou a rir e disse parabéns! Juro, a minha vontade naquele momento foi virar a mão na cara dele. Mas depois do parabéns a primeira pergunta que ele me fez foi: posso saber por que você está chorando? E eu comecei a responder tudo o que vinha a minha mente: meu namorado vai me matar, mas antes vai me largar, eu destrui a vida dele, destruí a minha vida, minha faculdade, meus pais, minha vida, eu não quero ser mãe, não gosto de crianças, mão tenho como ser mãe e mais um monte de coisas que continuavam nesse sentido.
Eu não sabia se achava que ele era o melhor homem do mundo ou se ia desligar o telefone e nunca mais olharia na minha cara. Na duvida, tentei me acalmar. No fundo eu sentia um peso por não ter confiado nele e que ele fosse a primeira pessoa a saber. Mas o meu medo da reação dele, da nossa reação juntos e tudo mais era tanto que eu consegui tomar outra atitude.
Mais tarde a noite nos falamos e assim como a minha, a ficha dele ainda não havia caído. Eu continuava em pânico. E agora, ele estava também.
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